O distrito de Bragança é, segundo uma notícia avançada hoje pela Rádio Brigantia, o que tem os combustíveis mais caros do país.
Aproveitem agora um minuto para parar, e interiorizar bem este facto.
Um dos mais deprimidos e envelhecidos territórios do país, o mais distante distrito nortenho em relação ao Grande Porto, e o mais distante do território continental em relação a Lisboa, com mais de 200 km de fronteira com a Espanha mas nenhuma entrada terrestre digna do século XXI, tem os combustíveis mais caros do país.
Calma; ainda fica pior.
O distrito de Bragança consegue ser ainda o que menos quilómetros de ferrovia tem activos (apenas 11 km, desde a foz do Tua à ponte da Ferradosa, servindo unicamente uma estação e um apeadeiro), e o que mais quilómetros de ferrovia inactivos tem (239 km, correspondendo à totalidade das Linhas do Tua e do Sabor, que servem nove dos doze concelhos do distrito).
Ao mesmo tempo, surgem ufanas inaugurações de ciclovias a ocupar o canal ferroviário da Linha do Tua nos concelhos de Mirandela, Macedo de Cavaleiros e Bragança, acompanhadas de estações recauchutadas com termos ora metafísicos como "Parque Multitreino de Rossas" (Santa Comba de Rossas, na mais alta estação de Portugal), ora overhyped como "Centro Cycling do Quadraçal" (Cortiços).
Em Torre de Moncorvo, a extracção de minério de Ferro está em expectativa de ser reactivada. O seu transporte durante a sua longa actividade no século XX foi garantida através de um troço da Linha do Sabor, desde as portas das minas no Cabeço da Mua e no Carvalhal (maior estação intermédia desta via férrea, em termos de linhas), até ao interface com a Linha do Douro na estação do Pocinho.
Porém, a proposta agora é fazê-lo em dezenas de camiões, pelas estradas dentro e fora da vila de Moncorvo, enquanto este mesmo troço da Linha do Sabor é reconvertido numa ciclovia em terra batida, na mais dura rampa ferroviária nacional (quase 20 km sempre a subir a 2,5% de inclinação), e cujo primeiro troço custou há década e meia atrás a exorbitância indefensável de 125 mil euros por km (repito, em terra batida, num canal já existente).
Para fechar com chave de ouro, o Plano de Imobilidade do Vale do Tua completa este ano 13 anos de existência, com a boçal soma de ZERO passageiros transportados, sem prazo para reposição do serviço ferroviário, forçando o Metro de Mirandela a estar parado e as suas automotoras a serem vandalizadas e a deteriorarem-se (já nem falo no "comboio da Disney", que nem homologado está ainda, passados seis anos da sua chegada a Mirandela), por culpa exclusiva do Estado Português que se recusa a ser responsável pela manutenção de uma via férrea que é sua desde 1947.
Respire fundo, recite um mantra, aprecie a paisagem...
Gostaria de frisar aqui o que representa sermos o distrito com os combustíveis mais caros, enquanto assistimos com total complacência à destruição da nossa ferrovia. Não significa apenas que quando vamos abastecer o automóvel para ir para o trabalho, somos os portugueses que mais pagam pelo "privilégio".
Significa também que as mercadorias que transitam pelo nosso território também pagam o combustível mais caro do país: o merceeiro que percorre as aldeias, os comerciantes e prestadores de serviços que precisam de movimentar bens de consumo e materiais de construção; mas também os autocarros escolares, os bombeiros e ambulâncias a transportar doentes. TUDO no nosso distrito fica mais caro, porque os combustíveis são um bem de consumo que estão na base de quase TUDO na nossa Economia.
Um dos distritos que mais contribui com energia eléctrica para o país, é refém do transporte rodoviário e dos combustíveis fósseis. Um verdadeiro hino à "transição energética" e à "coesão territorial".
Somos patéticos, Nordestinos.
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