No último domingo à tarde dei um salto até ao Pinhão, uma vila ribeirinha duriense de Trás-os-Montes. Já passei inúmeras vezes pelo Pinhão, a bordo de um comboio pela Linha do Douro, invariavelmente ou a caminho do Tua, ou da Régua. Nos meus tempos de Aluno Salesiano, aqui vi desembarcar várias vezes colegas naturais de terras próximas, que assim se deslocavam para um fim de semana prolongado ou férias em casa. Para mim, foi sempre local de passagem: um marco bem distinto da viagem, mas, sempre de passagem.
Neste domingo demorei-me por lá um pouco. Fui visitar os cais e a ponte pedonal, e meu Deus, o que o Pinhão mudou. Antes, o Pinhão era pouco mais que uma das mais bonitas estações de Portugal (continua a sê-lo), e local de cruzamento de comboios.
Hoje, o Pinhão transformou-se num hub turístico com um movimento que me deixou de queixo caído! No longo cais, que de há muitos anos só me lembro ter uso para competições de pesca, só no pouco que lá estive atracaram três navios de cruzeiro. Chega-se lá agora facilmente por uma ponde pedonal sobre a foz do rio Pinhão, obra que não terá ainda duas décadas de existência. No lado de cá, um longo ancoradouro, a fervilhar de actividade, com embarcações de vários tipos, desde o rio Pinhão até à ponte sobre o Douro, com percursos que eu desconhecia e que permitem passeios de curta duração, como ir dar uma volta até ao Tua e voltar. Vários - ênfase em vários - cafés e restaurantes se perfilam desde a foz do Pinhão até à ponte sobre o Douro, num espaço que inclui também campos de jogos e parques infantis.
O hotel Vintage imprime uma graça Art Deco com o seu charme. A ponte sobre o Douro ergue-se majestosa. Gostei muito deste "novo" Pinhão.
Mas não bastou certamente a atribuição de Património da Humanidade ao Douro Vinhateiro, dada já em 2001. Houve aqui um factor decisivo, e isso mesmo pude testemunhar na estação. "Agora sim, temos uma boa frequência: antes mal tínhamos 5 comboios em cada sentido, agora são 7; esse que está na linha 2 terminou aqui a marcha e volta para o Porto"; assim falava o Fábio, ferroviário da CP responsável pela bilheteira do Pinhão, conhecido de longa data de quando trabalhei no Metro de Mirandela e ele ia lá fazer a recolha da receita da CP.
Comboio Inter Regional "Miradouro" a atravessar o rio Pinhão, vindo do Porto.
No pouco tempo em que estive no Pinhão, passou um comboio Porto - Pocinho (Miradouro), o Comboio Histórico no sentido do Tua e que parou um generoso tempo aqui, e por fim um comboio Porto - Pinhão (término inusitado!), que depois ainda vi partir de volta para o Porto. O movimento no cais foi constante, e o ar era preenchido com vozes em português, espanhol, e inglês. Parte da estação está transformada numa Wine Shop, e a julgar pelo que vi ser vendido ao balcão a uma turista, enquanto esperei para saber que uma lata de coca-cola custava 2,50 € (não comprei, obrigado), o negócio vai de vento em popa.
Comboio Histórico do Douro a sair do Pinhão, rumo ao Tua.
Não restem dúvidas sobre o que trouxe de novo vida ao Pinhão: a Linha do Douro. Mas não é apenas "a Linha do Douro": é a renovação da super estrutura da via que tem sido levada a cabo - apesar do Fábio contrapor que ainda existem por ali alguns incompreensíveis afrouxamentos (limitação de velocidade, na gíria ferroviária) - e também a melhoria do serviço e da frequência, possível graças à recuperação, imagine-se, de carruagens suíças da década de 1950 que estavam fora de circulação. Estas, rebocadas por máquinas diesel da década de 1970, nada mais são que um reevocar dos normais comboios em que viajei tantas vezes na década de 1990 - e esta foi uma aposta absolutamente ganha.
Comboio Inter Regional a partir do Pinhão em direcção ao Porto.
Fico feliz por este sucesso, e mais uma vez saio com um amargo sentimento de contradição: porque é que este modelo não é replicado noutros pontos da nossa ferrovia, e em Trás-os-Montes em particular? Ainda estou no meu período sabático sine die, afastado de qualquer forma de activismo ferroviário, precisamente porque continuo sem compreender esta contradição.
Visitem o Pinhão; vale a pena.
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