É uma questão mais pertinente que aquilo que aparenta à primeira vista.
Comecemos pelo mais importante: não confundir reintegracionismo ortográfico, com reintegracionismo político - ou seja, defender uma grafia galega mais aproximada à grafia portuguesa, não equivale a defender que a Galiza deveria fazer parte de Portugal. Não somos os únicos povos do mundo a partilhar características culturais, de lados diferentes de uma fronteira política - e eu vivo perfeitamente confortável com isso.
Pronto, agora que afastámos este elefante da sala, vamos ao restante, e igualmente importante.
Prosseguiria por outra questão óbvia a favor do reintegracionismo galego: escrever é uma coisa, falar é outra. A palavra "chave" em Português universal é dita de uma determinada forma. Mas no dia a dia, será mais que normal ouvir no Nordeste Trasmontano alguém perguntar pelas "tchabes" (com africanismo "tch", e o "v" com som de "b"). Mesma grafia, pronúncia diferente.
De onde que não me causaria impressão nenhuma que a palavra "igreja", que por terras trasmontanas pode ouvir pronunciada "igreija" ou mesmo "ergueija", fosse pronunciada na Galiza como "igrexa". "Hoje" é um "hoije" em Trás-os-Montes, e um "hoxe" na Galiza. Mesma grafia, pronúncia diferente.
Outra característica, da qual existe precedente há praticamente um século, são as diferenças ortográficas que já coexistem entre o português de Portugal e o do Brasil. Enquanto que no Brasil podemos divertir-nos com as aventuras da Turma da Mônica, em Portugal encontraremos as mesmas aventuras da Turma da Mónica (notaram a diferença?). Portanto, se o mesmo "hoje" fizer mais sentido na Galiza como um "hoxe", não impede que em diversos outros vocábulos exista uma reaproximação na sua grafia - ainda que não necessariamente na sua pronúncia! Exemplos desses vocábulos seriam aqueles que usam "ll" em galego, e que são "lh" em português, ou "ñ" em galego e "nh" em português, e aí sim uma grafia diferente representa um claro afastamento entre os dialectos de cá e de lá.
Depois, passamos ainda pelos regionalismos. Como vinhaense, rapidamente ouço expressões ou formas de dizer uma mesma frase no Galego, que identifico como mais próximas do dialecto da minha terra do que do Português Universal. Um universal "ontem" é um "onte", tanto no galego como no dialecto vinhaense, só para citar um exemplo.
Como português galaico, e não lusitano, e ainda por cima raiano, sinto intrinsecamente uma proximidade natural com a cultura galega - porque fomos, historicamente, um só povo, durante séculos que precederam e sucederam ao domínio Romano.
Sou a favor do reintegracionismo ortográfico.
Um abraço da Galécia do Sul.
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