Entrei no mundo dos Trails em 2018, receoso ainda de ir encontrar um mundo - e sobretudo uma distância - para a qual não estaria minimamente preparado. Estava, felizmente, enganado; e o bichinho do Trail veio para ficar.
Não é portanto de admirar que foi uma questão de tempo até descobrir a crème de la crème dos Trails no mundo: o UTMB: Ultra Trail do Monte Branco. Algo a que qualquer amante do Trail sonha aspirar a poder correr um dia, onde a brutal exigência dos vários percursos disponíveis é recompensada pelas paisagens e pelo sentimento de pertença a uma prova de topo.

Foi portanto com enorme choque e tristeza que li a notícia de que na edição deste ano da prova TDS (Sur les Traces des Ducs de Savoie), inserida no UTMB, um atleta de nacionalidade checa perdeu a vida, depois de uma queda numa descida técnica na zona de Passeur de Pralognan. O acidente deu-se pouco depois da meia noite, ao km 62 da prova. Apesar da rápida assistência de uma equipa de socorro e da evacuação posterior de helicóptero, o atleta acabou por não resistir aos ferimentos.
A organização da prova não cancelou o evento, e deixou prosseguir perto de 300 atletas que já tinham passado pelo local, mas barrando a passagem aos restantes mil e cem, para possibilitar as operações de resgate. Contudo, isto significou para dezenas deles várias horas de espera, de madrugada, num local ermo e íngreme, com instruções para voltarem para trás até Bourg Saint-Maurice, de onde poderiam ser transportados de autocarro de volta à zona de partida.
Condolências aos familiares e amigos do atleta.
Uma nota contudo: sim, tenho o bichinho do trail bem instalado no organismo, e ainda este ano quero lançar-me na minha primeira distância ultra. Mas as fotos de alguns dos atletas, tiradas de madrugada na zona do acidente, arrepiaram-me. O local é absurdamente íngreme, e estava a ser percorrido em condições de pouca ou nenhuma visibilidade.
Onde estará o limite entre loucura saudável e superação, da temeridade e irresponsabilidade para connosco próprios?...


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