Falar à trasmontana é, sobretudo, falar com gozo pela vida. Não levar as coisas demasiado a sério. Não é necessário fazer de cada frase uma piada, mas também não deixar passar uma boa oportunidade para o fazer quando esta se apresenta.
Uma destas formas de falar diariamente de forma irónica, curiosamente, até existe noutros pontos do Norte: pegar numa palavra feminina, e transformá-la em masculino.
O primeiro exemplo é chamar a um grupo de cães cadelos. A palavra original, cadelas, passa assim para masculino, agrupando não apenas os canídeos machos, como também as fêmeas. Pode-se dizer no singular também: referindo-se a um cão, pode muito bem ouvir alguém em Trás-os-Montes perguntar casualmente e este cadelo, de quem é?.
De um jeito parecido, surgem os raparigos: raparigas fica assim masculino, incluindo tanto meninas como meninos. Biste os raparigos? - Andam na rua a brincar!.
Há outros vocábulos, regionalismos ou não, que podem passar por esta transformação. Para acrescentar algum humor, em vez de perguntar se biste as minhas alparagatas (calçado)?, pergunte antes biste os meus alparagatos?. Quer dar um ar de aumentativo; então uma navalha passa para um navalho - De quem é este navalho tamanho (tão grande)?. Diminutivo, ou pejorativo: então uma cabana passa para um cabano - Fraco cabano construíste pr'aí!.
Não ficaremos por aqui: há muito mais chão e céu a percorrer em Trás-os-Montes. Até à próxima trasmontanice!
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