Dia -1; a mochila com a muda está pronta, o equipamento a vestir de manhã está arrumado ao lado da cama. Outros itens igualmente importantes estão ali à mão: relógio, barrita, gel, porta-dorsal, vaselina (not what you're thinking), cápsulas de sal... Ir correr é muito giro e tal, mas quando nos mandamos a uma prova de longa distância é bem que entremos no desafio com respeito por ele... ou ele não nos vai respeitar a nós - e boy, oh boy!, se isso às vezes não se paga caro.
O despertador chama-nos às seis da matina; mas para que caraças é que um gajo se mete nestas coisas? A prova é em Bragança, a uma hora e vinte de distância, pelo que sair de casa terá de ser no máximo às sete, para ir a tempo de levantar o dorsal.
Ciranda-se pela casa com pés de lã para não acordar o pessoal. Pequeno-almoço pró bucho, um beijo ao de leve na filhota e na esposa, umas festas aos cães, mochila e demais apetrechos no carro, e ala que se faz tarde. O Douro Vinhateiro nestas latitudes está debaixo de nevoeiro, e este só se dissipa para lá da área de serviço de Vila Real, na A4, ao começar a descer para o vale do rio Pinhão.
Viagem tranquila; afinal de contas é domingo, cedo que até dói, por isso só gente obrigada a isso, ou malucos da cabeça (aka, corredores), é que andam na estrada. Bofetada na cara, agora que meti finalmente o activismo ferroviário num saco e enterrei esse saco no meio do monte e atirei a chave fora (wait, what?...), ao passar nas curvas do Romeu lá iam duas pessoas pela vetusta ciclovia a fora - #ofuturovemdetrotineta.
Aproxima-se Bragança, olha-se nervosamente uma e outra vez para o relógio para ver se chego a tempo para ir ao secretariado - que afinal de contas fechou bem para lá do horário estipulado, sem direito a reembolso de minutos de sono perdidos. Paro o carro bem perto do local onde já ficara há 2 anos, salto cá para fora - um briol de bater o dente: chiça, São Pedro, decide-te lá, caramba! Tranquilamente, sigo para o Mercado Municipal, novo quartel-general da prova, para levantar o dorsal, e agora no mesmo espaço tomar também o café da praxe. Falta mais de uma hora para o arranque da prova.
Tempo mais que suficiente para uma barrita, uma banana, uma cápsula de sal, e umas goladas de água, enquanto a criançada começa as suas provas, desde os Benjamins e uma voltinha ao quarteirão, até à distância de 1 km à medida que se sobe nos escalões. Dos 5K em diante, arrancaremos às 10h00.
Hora de pegar novamente na action cam para gravações, ritual que fizera pela última vez em Junho de 2022, para a Corrida Solidária Continental, última prova que a minha anterior action cam fez antes de dar o badagaio. Finda a introdução habitual às provas, hora de fazer o aquecimento, e ir encontrando algumas caras bem conhecidas destas andanças - Rui Muga, e Rui Teixeira, dois monstros sagrados da corrida.
Aproxima-se a hora da partida, e vários atletas vão-se aglomerando: uns de dorsal azul (5K), outros de preto (10K), e outros como eu de dorsal vermelho (21K). Nervoso miúdo, que vai ficando graúdo à medida que um pequeno atraso na partida dos atletas em cadeira de rodas nos vai empurrando gradualmente para lá das 10 da manhã. Tranquilo: a hora chega. Estamos na Meia!
O percurso é o mesmo que percorrera em 2022, portanto sem surpresas vai-se correndo e olhando para o relógio, que vai dando a desejada média abaixo dos 5:40 por km. Chega um terço da prova, depois metade da prova, depois dois terços da prova... Os marcos do percurso vão chegando e passando: os bombos na rotunda da cantarinha, o retorno junto ao Fervença, o abastecimento no IPB, a passagem pelo centro, o túnel da estação. Ambiente fantástico na rua, com muitos atletas, muitos caminhantes, e muito povo de Bragança a aplaudir. O desporto é uma festa.
Lá pelo km 12, na segunda volta pelas Cantarinhas, um "atalho" no abastecimento, com o pessoal da organização a distribuir as fatias de laranja ainda antes do abastecimento oficial às portas do km 16: só quem se mete nestas andanças reconhece o pequeno milagre balsâmico e energético que é receber esta pequena dádiva citrina dos céus!
Último terço da prova; tudo a correr bem. Volta-se à estação, e quando chega o km 18 aí sim o peso de tanto quilómetro começa a pesar. Mas não há desânimo, nem pensamentos de desistência ou de caminhada - a meta é já ali, vamos! E seguimos, e só já no meio do km 19 olho para o relógio e fico a pensar que estou rés vés a tocar nas 2 horas de prova. Dá para o sub 2? Não, já não há forças; mas deu para tirar 5 minutos ao meu recorde da Meia Maratona, e ficar a apenas 1 minuto do tão almejado Sub 2.
A Corrida das Cantarinhas é uma daquelas provas que não posso dispensar do meu calendário anual. Dá uma espreitadela aqui para ver como foi, e a ver se não dá vontade de ir?
Bons treinos, boas provas!
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