Diz o ditado que não se deve voltar aonde se foi feliz; mas que porra de ditado mais idiota...
A Meia Maratona do Douro Vinhateiro de 2019 foi a minha primeiríssima prova de 21K - e lamento um bocadinho dizê-lo, a minha mais rápida até hoje entre quatro disputadas. E a 29 de Maio próximo, volta para quebrar três anos de ingrato jejum.
Um rápido enquadramento: a Meia Maratona do Douro Vinhateiro (so called "a mais bela corrida do mundo"... because reasons) está enquadrada num calendário de Meias Maratonas em Portugal denominado "Running Wonders", discorrendo em cidades onde podemos encontrar um sítio Património Mundial da Humanidade (UNESCO). Nesta prova, como o nome indica, estamos em pleno Douro Vinhateiro, Património da Humanidade desde 2001.
De entre estas Meias, a do Douro Vinhateiro é a única que não inclui uma Mini Maratona, mas antes uma caminhada de 6K. E boy, oh boy!, se a caminhada não mete ali um mar de gente.
A Partida localiza-se na barragem de Bagaúste, 2 km a montante do Peso da Régua. A organização disponibiliza uma loucura de autocarros entre a estação da Régua e a barragem, e até a CP dá uma mãozinha com comboios em circulações especiais só neste percurso. Para quem chega de carro ou mota à Régua, existe um gargantuesco parque de estacionamento, acessível junto à rotunda de acesso à ponte da N2, junto ao rio. Para quem queira vir de comboio, a Linha do Douro começa no Porto (e não em Ermesinde - fuck off, IP!), e é a melhor viagem de comboio que o nosso país pode produzir.
Meia Maratona - o Percurso

Os 21,0975 km oficiais de uma meia maratona cabem aqui num percurso que tem tanto de verdadeiramente belo como de desafiante. E não, não falo em termos de altimetria, já que o percurso é essencialmente plano, e desníveis são mais as descidas que as subidas. Falo de um factor determinante do vale do Douro e dos seus afluentes: o calor. Se nunca correu nesta meia maratona, bem, prepare-se para uma pequena fornalha.
Como disse anteriormente, a Partida situa-se na barragem de Bagaúste, à saída da qual viramos imediatamente para a esquerda na N222 no sentido do Pinhão. O percurso é sempre ribeirinho, junto ao Douro, no último degrau das ciclópicas escadarias de socalcos - aqui são conhecidos mais como "patamares" - do mar de mosto que começa em Barqueiros e só acaba nas Arribas do Douro Internacional, 100 km acima.
Um simpático aquecimento depois, e estamos na Folgosa, defronte a Covelinhas na outra banda, com o São Leonardo de Galafura lá no alto, à proa de um navio de penedos. Se por esta altura pensar que está no Paraíso, bem... não será o único.
Continuamos um pouco para lá da Folgosa, e antes de atingir a foz do rio Tedo - que por acaso daria um belíssimo spot ao percurso - temos o ponto de retorno. No regresso à Folgosa atingimos a metade da prova, e somos brindados com quanta água quisermos - aliás, em 2019 havia pontos de abastecimento de água praticamente a cada 2,5 km! - e o único ponto com isotónico - se bem que em outros pontos temos também as famosas laranjas que sabem pela vida nestas provas.
Uma ligeira subida depois, e estamos de volta aonde começámos, na barragem de Bagaúste, com 15K concluídos, e a Régua à espreita lá longe. Faltam 6 km apenas, e começa a bater a adrenalina... Vemos a enorme ponte Miguel Torga cada vez mais próxima, depois a ponte da N2 (originalmente a ponte do caminho de ferro para Lamego, que nunca foi concluído), e finalmente entramos na antiga ponte rodoviária, agora apenas pedonal. Passamos finalmente para a margem Norte do Douro, e uma multidão acolhe-nos na Régua, com quanto barulho conseguem produzir.
Chegamos à estação, e começamos a descer para o cais da Régua. Cartazes com várias mensagens incentivam-nos: último quilómetro!!! E a Meta efectivamente lá está, depois do cais e de uma rotunda na estrada para Mesão Frio. Conseguimos; agora é hora de uma jola bem fresca, mais uns souvenires - e a organização não olha aqui a gastos para nos mimar, com vinho do Douro e do Porto a sair como pão quente - e toca a voltar para o carro, ostentando a medalha pela marginal da Régua acima, quais heróis olímpicos.
Consigo imaginar manhãs menos produtivas e interessantes.
Vivo perto, numa aldeia vinhateira, depois de já ter passado dos 10 aos 15 anos num colégio interno também aqui ao lado, e ter feito inúmeras viagens de comboio neste trajecto. Sou suspeito para falar da beleza destes locais, é claro. Mas bem, não há melhor maneira de provar se estou certo ou errado, do que vir cá correr a (provavelmente) mais bela corrida do mundo.
Site da prova: https://www.runningwonders.com/meiamaratonadourovinhateiro/
PS: Tenho de mudar de sapatilhas brevemente; any ideas? https://www.reinomaravilhoso.net/equipamento
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