Staba aqui outor dia a oubir ua música que usei num bídeo do YouTube, lá para 2007, d’ua das minhas boltas de bicicleta desd’a minha aldeia, Bilar d’Ossos, até ao alto da C’roa, que adoraba dar quando passava nas férias de Berão lá, e aquela música fez-me bater ua saudade tamanha…
No final d’um dia com muntas cousas a fazer, entre regar e mondar feijões, dar de comer aos porcos e aos pitos, desd’o feno à segada, às batatas e à lenha, lá pelas sete da tarde, lá te me pegaba eu no chicoleto – nome com que a minha abóa chamaba à minha bicicleta – e saía por caminhos e montes, sozinho, c’ua camelback que só serbia na berdade pra lebar no diskman e ir a oubir música.
Caralh’chas, e que bom era, puxar pelos músculos, pedalar, pedalar, pedalar, pela estrada nacional, pelos caminhos agrícolas, aqui e ali surpreendendo um bando de cegonhas ou ua raposa fugitiba, a deitar nos pulmões pela boca nas subidas, ou a boar em descidas poeirentas ou troços das nacionais e municipais. E era eu, solo – e o chicoleto e a música – nua meia hora em que o mundo era tão, tão mais simples.
Fai-me falta essa meia hora de chicoleto. Fai-me falta essa meia hora de caminhos da minha terra; passar naquelas alminhas no meio do monte em Zido, puxar pela roda pedaleira de pé na bicicleta para conseguir subir até Bal d’Espinho, deixar cair a bicicleta pró lado aos pés do enorme marco geodésico do alto da C’roa num último esforço, numa altura em que sofria ataques de pânico e estas subidas titânicas foram a minha terapia, fazer naquela bolta por Tuizelo e pelas P’leias e boltar pelo Monte Calbo…
Cheirar nas giestas e as urzes. Oubir no bento nos pinheiros do Bilar e de Trabanca. Oubir os rigueiros no seu buliçar para se encontrar com outros rios. Melros, cucos, o aroma doce das amoras silvestres, o bafo quente dos pinheiros.
O meu Reino Marabilhoso pessoal.